terça-feira, 23 de outubro de 2012

UCI SE RENDE AO RELATÓRIO DA USADA

CASO: LANCE ARMSTRONG


A UCI lavou as mãos e aceitou os relatórios da USADA e além de tirar todos os títulos de Lance Armstrong está banindo o cowboy da vida esportiva. Ao seu lado talvez fiquem Robin Williams, Sean Penn, Ben Stiller estrelas de hollywood e seus amigos pessoais além dos mais fanáticos torcedores, mas uma coisa é certa todos, absolutamente todos foram enganados, no mundo a pedal a mentira e a falta de humildade pesaram muito mais que as drogas e as auto-transfusões .A questão toda não passa pelo doping; o desporto de alto rendimento e a constante busca por resultados e retorno aos patrocinadores escondem suas armadilhas; porém entre Lance Armstrong e muitos dos grandes nomes do ciclismo mundial há uma grande diferença: os que foram apanhados ou se entregaram, de algum modo já pagaram por isso, a lista é extensa e conhecida. 

A diferença entre eles e Armstrong é uma questão de assumir os erros, assumir que para melhorar o desempenho ou para completar a prova era necessário usar um meio ilícito, a outra e na verdade a que está em julgamento é o comportamento muito mais sujo que o doping. O ciclismo não é feito de anjos, não venham com histórias de que são todos limpos que ninguém provou ou nunca pensou nisso, a história do ciclismo está aí desde a primeira corrida até os dias atuais, indo mais longe a história milenar do homem, corre em paralelo à do doping, quer seja para ter mais coragem ou para melhorar o desempenho, guerra-paz-esporte, o homem sempre buscou uma maneira de ter o algo a mais que lhe garantisse segurança, coragem ou uma vantagem sobre os demais. 


Ninguém vai pedir a exumação dos corpos de ex-campeões, ninguém que tirar títulos de Coppi, Bartali, Merckx, Ocaña, Hinault, Moser e tantos outros. A punição é para o comportamento de gangster, a mentira, a pressão seja ela econômica ou psicológica , a falsa modéstia, a soberba tudo o que muitos críticos apontavam de negativo em Lance Armstrong e que a UCI antes que o mundo caísse sobre ela, simplesmente resolveu apagar o texano da história do esporte, pedindo para que esqueçam dele.


Hoje em coletiva de imprensa, a UCI por meio de seu presidente Pat McQuaid ao reconhecer e acatar o relatório da USADA e desqualificar todos os resultados competitivos alcançados a partir de 1 de agosto de 1998 procura varrer Lance Armstrong da história do ciclismo, as consequências de tal desclassificação ainda não foram definidas mas já há patrocinadores querendo a devolução de prêmios por conquistas, é o momento do assalto ao pote de ouro. Na sexta-feira passada durante evento da Livestrong já havia alguns doadores descontentes reclamando em declarações dadas à rede CNN: “-O que se fez com todo esse dinheiro? -Não teria se criado tudo isso a partir de uma fraude? -O êxito da Livestrong partiu da história extraordinária de Armstrong, nosso messias que resulta que não é tão bonita como nos fizeram acreditar! Não temos direito a que nos devolvam nossos donativos? - A sociedade estadunidense constrói seus ídolos, mas não aceita a mentira e Armstrong foi muito além, as provas apareceram e agora, aos poucos começa a debandada com os patrocinadores encerrando contratos, a Oakley foi a foi a ultima a faze-lo em breve comunicado divulgado hoje. 

Momentaneamente melhor sorte terá a fundação Livestrong que não perdeu patrocinadores, mas não é de se duvidar que passe por uma dura auditoria.“Peço desculpas por não ter apanhado os culpados a tempo. Quando assumi a UCI em 2005, depois do sétimo Tour de Armstrong, a minha prioridade era acabar com o doping. Estamos avançando contra-o-relógio, mas ainda há muito trabalho a ser feito. Não vou me demitir”...e assim o presidente a UCI quer capitalizar o relatório da USADA. Antes que a bomba explodisse em Aigle, na Suíça e no colo dos dirigentes do ciclismo mundial estes resolveram destampar o caso Armstrong e contar que estão trabalhando para acabar com o doping no ciclismo. Grande inversão na maneira de pensar. Há pouco mais de um mês a UCI não dava muito valor ao relatório da USADA e exigia provas, cobrava pelo relatório que não chegava, apostando em que não teriam chegado tão fundo em suas revelações. Com o relatório em mãos, os homens de terno e gravata se renderam, e antes que se transformassem em vitimas e que o esporte fosse definitivamente jogado na vala, e já contabilizando a saída da Rabobank e de outros possíveis patrocinadores de peso a UCI validou o relatório, não importa se as provas são declarações ou depoimentos. 

O relatório foi a pá de cal na carreira do texano. Pensou-se nos dirigentes, no esporte como um todo, na sua representatividade olímpica e aí dane-se Lance Armstrong. “Viva o Ciclismo! vamos trabalhar para limpá-lo, vamos trabalhar por seu futuro” informam os dirigentes.Pat MacQuaid tratou o caso como sendo a “maior crise que este esporte já enfrentou” e aposta no trabalho que vem sendo executado “ Temos um caminho pela frente, temos que apoiar nosso sistema. Sinceramente penso que o ciclismo tem futuro e os corredores tem que participar em um esporte limpo e temos que oferecer as condições suficientes para que possa ser feito”, para tanto garante que na atualidade seria muito difícil se repetir um caso como o do cowboy - “Os controles de hoje são mais estritos, é muito mais difícil que ocorra um caso similar. Essa atitudes que que víamos no passado estão mudando”.


A UCI informa que Armstrong foi testado 218 vezes, porém a metodologia utilizada era ineficiente, e que se houve delação por parte dos companheiros de equipe é por que estes, legalmente , foram colocados entre a espada e a parede ou confessavam em juízo ou responderiam a duras penalizações, e é claro que nenhum deles teria economias e negócios suficientes para contratar bons escritórios de advocacia para poder contestar as intimações. Porém quando McQuaid foi questionado sobre a doação por Lance Armsgtrong do equipamento Sysmex à UCI para realização de controles de dopagem , a saia ficou justa, em resposta um tanto evasiva, disse que toda doação era bem vinda, ademais não havia provas contra Armstrong.


A entidade máxima puniu Armstrong para fechar uma caixa de Pandora – aonde haveria muita coisa a ser esclarecida como um possível tratado em favor de Armstrong, como relata o diretor do laboratório de Laussane, Martial Saugy, “Na volta da Suíça de 2001 sua urina resultou muito suspeita para EPO, mas não o suficiente como para ser declarada positiva”. “A UCI nos disse que na Dauphiné de 2002 também havia uma urina suspeita, anormal, de Armstrong. A politica da UCI naquele momento com os corredores importantes era advertir e pedir explicações” e assim Saugy na largada do Tour de 2002 , em Luxemburgo, deu explicações a Armstrong e a seu diretor Johan Bruyneel de como funcionavam os testes de EPO – algo muito estranho e que gerou duras críticas da AMA. Esse foi um dos muitos exemplos, e antes que coisas mais fortes que essa pudessem aparecer, a UCI se rendeu à USADA. Agora não há mais espaço para transforma-lo em um mártir do ciclismo, torcedores questionam seus feitos, sua credibilidade despenca com o sentimento da mentira e o tour ficará sem sete vencedores.

Texto: George Panara

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