Treinamento Ciclístico: Por Renato Andre

Assim que chegou na equipe Garmin, o estrelado Murilo Fisher declarou ter se impressionado com os treinamentos científicos que eram realizados.
Científicos? Isso mesmo!!!!!!
Conceitualmente, o treinamento desportivo consta da repetição sistemática de exercícios dirigidos a melhora do rendimento físico, por meio da indução de adaptações funcionais e morfológicas. Este é um processo pedagógico que desenvolve habilidades técnicas, táticas, condicionantes e psicológicas.
Ao obedecer critérios científicos, é absolutamente necessário que o treinamento esteja descrito em planos temporais sobre uma ótica racional, com seus objetivos operacionalizados e  verificações regulares da performance.
Neste sentido, os treinamentos científicos da equipe Garmin nada mais são que sessões de ciclismo com objetivos muito bem delimitados. Ou seja, treina-se de forma objetiva a fim de desenvolver, ora a potência anaeróbia, ora a capacidade aeróbia; ou tantas outras habilidades importantes para o ciclismo, como: a força de resistência; o controle motor; a velocidade de aproximação etc. É necessário ressaltar que cada habilidade citada se desenvolve com exercícios e intensidades específicas, daí a necessidade de fragmentar o treinamento em subgrupos de carga, que atinjam tais habilidades de forma significativa.
Por vezes perguntam-me: “Hoje rodei 100 km e amanhã rodarei 75 km, tá certo ou errado?”. Confesso que é sempre difícil responder perguntas desse tipo, pois não há como expor uma opinião consistente desconhecendo os propósitos atléticos individuais, bem como o histórico recente de treinamentos e os objetivos do atleta naquela temporada. Assim, comumente respondo: “Se não lhe trouxe nenhum malefício então deve estar certo.” É bem comum que o impasse continue com verbalizações do tipo: “Ah…..então quer dizer que não existe treinamento errado?”. Respondo prontamente: “Não foi isso que eu quis dizer”; até porque é impossível analisar a efetividade/validade de um treinamento de forma aleatória. Temos que avaliar o contexto do treinamento para, aí sim, postular se o treinamento realizado é adequado ou não.
Infelizmente é comum vermos ciclistas “treinando” de forma perigosa; fazendo volumes demasiadamente superiores aos recomendados, ou realizando treinamentos intervalados anaeróbios com muita frequência; ou pior, utilizando a planilha do amigo porque não tem treinador.
Tais condutas podem provocar danos, pois a inconsequência ao treinar pode representar o excessivo sobre o útil; o desequilíbrio acima do proveitoso; ou mesmo, a fadiga crônica ao invés da melhora do desempenho.
O treinamento adequado perpassa pelos pressupostos científicos e práticos, bem como, pelo feeling do professor/treinador e, fortemente, pelo desenvolvimento da cultura física do ciclista.