sábado, 11 de dezembro de 2010

A sorte acompanha campeão

O que podemos entender por “sorte” quando falamos de esporte? No futebol, é como aquele gol de canela após tomar bola na trave na defesa. No tênis, ela aparece quando, no ataque, a bolinha para na rede e cai caprichosamente para o lado do campo adversário, anulando qualquer possibilidade de reação do outro jogador. Ou então quando a bola segue numa jogada forçada e passa para o outro lado, pega a casquinha da linha e confirma-se que foi mesmo dentro da quadra. São jogadas acompanhadas de muita sorte. Mas e na bike, como poderíamos entender quando a sorte se faz presente?

Em inglês, a palavra "time" significa tempo, momento, e os campeões na maioria das vezes tiveram os seus.

Foi assim de maneira prolongada com Greg LeMond, que venceu uma de suas três vitórias no Tour de France por apenas oito segundos de diferença para o francês Laurent Fignon, em 1989. Fica fácil inclusive lembrar diversas situações, como os tombos do espanhol Joseba Beloki e do alemão Jan Ullrich em épocas que eram rivais do heptacampeão Lance Armstrong. O primeiro teve de abandonar a prova – e precocemente a carreira – por conta da queda, enquanto o americano não só não caiu como desceu barranco abaixo improvisando e transformando sua speed em uma mountain bike. Como ainda prosseguiu na etapa, já sem o seu maior concorrente direto naquela edição, Armstrong pôde concluir com menos pressão e administrar mais uma de suas grandes vitórias no Tour.
Em outro ano e na penúltima etapa, um contrarrelógio individual também deu motivo para o americano se beneficiar da sorte. Jan Ullrich era considerado na época mais forte que Armstrong no CRI. O alemão havia chegado naquela etapa com o menor tempo na classificação geral nos vários anos de disputa entre os dois – até aquele momento, detinha reais condições de bater pela primeira vez o supercampeão da França, quebrando sua sequência ininterrupta de vitórias. Por conta da chuva e do piso escorregadio, no entanto, Ullrich caiu e perdeu ali sua chance de vitória.

Sorte de um e muito azar do outro.

Em julho passado, mês em que acontece o Tour, tivemos mais uma vez a confirmação de que a sorte invariavelmente acompanha esses momentos especiais dos grandes campeões – e o espanhol Alberto Contador que o diga.

É tão verdade isso que nós pudemos ver e constatar que Lance Armstrong foi o pararraio do pelotão na edição deste ano, sofrendo grandes e doloridas quedas, tendo por algumas vezes seus pneus furados, inclusive em situações decisivas, que acabaram com qualquer expectativa de melhor resultado e performance sua.

Foi assim também com o principal parceiro de equipe de Andy Schleck, seu irmão Frank, que quebrou a clavícula em um dos dias no qual a volta passava pelos paralelepípedos. Sua ausência com certeza fez muita falta para o luxemburguês.

Além do mais, independentemente se em uma atitude antiesportiva ou estratégia oportunista, Contador se valeu do azar de Andy para lhe tirar a camisa amarela – que sustentou até a chegada em Paris no último dia, tornando-se pela terceira vez o vencedor da mais importante volta ciclística mundial. Não se pode dizer nem prever, entretanto, se Schleck (caso não houvesse tido problema mecânico quando o espanhol o atacou) ganharia o Tour.

Não tenho a mínima pretensão de afirmar que é pela sorte que são feitos os importantes resultados e medidas as capacidades dos atletas que se destacam. Como profissional da área de educação física, sei bem a enorme qualidade e o árduo trabalho que eles têm de realizar para chegar a esse nível de excelência, mas deixo uma pergunta para um instante de reflexão: será que alguém duvida mesmo que a sorte sempre acompanha o grande campeão?

Escrito por: Ricardo Arap

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